17/06/2013

ENTREVISTA COM O GOVERNADOR

Richa aposta em “legado” na Capital e apoio no interior para vencer em 2014
O governador Beto Richa (PSDB) não nega que a eleição de Gustavo Fruet (PDT) para prefeito de Curitiba com o apoio do PT dificultou seu projeto de reeleição para o governo em 2014. Mas exibe desde já dois argumentos centrais para sustentar otimismo para a disputa do ano que vem, quando deve buscar um novo mandato no Palácio Iguaçu. Primeiro: diz ter um legado de obras e realizações a defender pelo período em que foi prefeito da Capital, reeleito em 2008 com votação de mais 70%, batendo justamente a hoje ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT), sua provável adversária na próxima eleição. Segundo: ao contrário de 2010, quando disputou o governo contra o ex-senador Osmar Dias (PDT), com o apoio de cerca de 60 prefeitos e mesmo assim venceu no primeiro turno, no ano que vem tem tudo para ver sua votação multiplicada no interior do Estado. E é justamente no contato direto com a população que o tucano aposta suas fichas para garantir mais quatro anos no poder. Não por acaso, tem visitado em média dez cidades por semana, e espera até o final do ano a ser o primeiro governador a percorrer pelo menos uma vez todos os 399 municípios paranaenses, ainda durante o mandato e bem antes da campanha eleitoral.  Em entrevista exclusiva ao Bem Paraná, Richa fala sobre como está se preparando para a eleição do ano que vem, reafirma as críticas ao governo federal e aos ministros paranaenses, e comenta a polêmica que envolveu o subsídio do Estado para o transporte coletivo de Curitiba.    Bem Paraná - O senhor está completando este mês dois anos e meio de mandato. De todas as realizações que conseguiu implementar nesse período, o que considera mais importante? Qual a marca de sua administração até o momento?  Beto Richa – É um governo humano, com conceitos importantes de diálogo, democracia, ações transparentes. Mas acima de tudo acho que o respeito. As pessoas percebem que é um governo de harmonia, de união. E isso tem feito a grande diferença. Com esses conceitos mais os bons programas, conseguimos resgatar a confiança com a sociedade, com o setor produtivo. Estão aí os números do maior ciclo (de crescimento) industrial do Paraná. Estamos já com R$ 25 bilhões de investimentos confirmados. Só esses investimentos do Paraná Competitivo começam a gerar com o início de operação dessas indústrias 140 mil empregos. Nessa área de emprego, o Paraná nos últimos dois anos e quatro meses que foi a última avaliação do IBGE, geramos 260 mil empregos com carteira assinada. Na última avaliação, no primeiro trimestre, foi o terceiro estado do Brasil, e o primeiro do Sul. Crescimento industrial, os primeiros do País. Ou seja, na contramão da desindustrialização do Brasil. Hoje ainda me falaram que em uma palestra em Florianópolis um diretor da Fundação Cabral colocou que o Paraná é o ‘tigre asiático’ do Brasil.




Bem Paraná - O secretário da Fazenda Luiz Carlos Hauly disse recentemente que o Brasil acaba atrapalhando o Paraná. O senhor concorda?

Beto Richa – Nós somos brasileiros, estamos dentro desse contexto. Mas posso dizer que o Paraná está muito acima da média nacional em todos os indicadores, econômicos e sociais.



Bem Paraná - A política econômica federal hoje é um problema para o Paraná?

Richa – É um problema para o Brasil, nós estamos inseridos nesse contexto. Eu já há algum tempo vinha ouvindo de investidores, empresários, industriais, o setor produtivo, a preocupação com os rumos que o Brasil vinha tomando. E agora nós estamos vendo, é concreto hoje. Preocupação com a volta da inflação, com a recessão, com a falta de competitividade. Isso eu ouvi lá fora conversando com investidores. A própria Renault, lá na França. A falta de competividade é o que mais preocupa os investidores. Justamente por falta de investimento em infraestrutura, que é um gargalo crítico. Nós estamos fazendo a nossa parte. Investimentos em portos, aeroportos. Só em Londrina são R$ 27 milhões, estamos ajudando na desapropriação dos imóveis, para poder o governo federal poder fazer os investimentos da ampliação da pista. Os investimentos nas rodovias da malha estadual foram R$ 850 milhões em um ano e meio lançados. A retomada dos investimentos no Anel de Integração, que eu dizia em campanha que ia despolitizar o assunto (pedágio), chamar (as concessionárias) para uma conversa e está aí: os principais trechos, os mais críticos em duplicação. Final do mês nós vamos inaugurar Medianeira-Matelândia (Oeste), onde muitos devem se lembrar, morreram aquelas crianças em uma van que estava indo para Foz do Iguaçu participar de um campeonato de artes marciais. Final do mês inauguramos 15 quilômetros e já dou a ordem de serviço para seguir em direção a Cascavel. Mas não toda a obra, porque a população de Cascavel, através das lideranças, me pediu que fizesse o trecho que é mais congestionado do trevo Cataratas em direção ao trevo São João. Temos ordem de serviço recentemente para duplicação de Ponta Grossa a Apucarana, R$ 1,2 bilhão a concessionária vai investir, 231 quilômetros. Estamos com os projetos de PPP (Parceria-Público-Privada) para a duplicação – é o maior gargalo do Paraná hoje, cada vez que eu vou para a região o pessoal me pede: ‘nem que seja concessão, PPP, nós queremos ver essa obra realizada, não aguentamos mais ver tanto acidentes’, lá de Maringá, Umuarama até Guaíra, passando por Cianorte, são 250 quilômetros. Então tem vários trechos, o investimento é vigoroso nesta área. Posso citar o Porto de Paranaguá, só com a mudança da gestão, mais eficiente, nós batemos o recorde no corredor de exportações, na movimentação de cargas, 41 milhões de toneladas em 2011, em 2012 44 milhões e meio e esse ano vamos chegar perto de 50 milhões de toneladas. Ninguém percebeu que não tivemos filas no porto.


Bem Paraná – O senhor acha que seu grupo cometeu erros de avaliação na eleição de Curitiba? Houve excesso de confiança?

Beto Richa – Não houve erro de avaliação. A partir do momento que o Gustavo (Fruet) foi embora nos sobrou o Luciano Ducci. Que vinha sendo um bom prefeito. Só ver os avanços. Os reconhecimentos nacionais e internacionais à sua gestão. Curitiba foi colocada, nos últimos cinco anos – pegou em cheio o meu mandato e parte do dele – a Capital brasileira que mais reduziu a pobreza e a miséria. Foi a segunda cidade no mundo na redução de poluição atmosférica. As grandes obras. Enfim, não sei. O povo quis mudar, a diferença foi mínima, foi 0,4%. Agora o Gustavo foi embora, fez a opção dele, se uniu do outro lado. Paciência. Ele tinha o temor de não ser candidato. Antecipou tudo isso. Não sentou comigo: ‘sou eu, não sou eu, ou eu vou embora’. Nada. Talvez ele estava se sentindo deslocado, mal dentro do grupo. Tanto que nem o partido frequentava. Não tenho nada contra ele. Torço para que seja um bom prefeito. Estou de portas abertas para ajudar Curitiba. Já demonstrei agora. É a primeira vez na história que Curitiba recebe subsídio, isenção do ICMS sobre o diesel, para ajudar no transporte, e para manter – porque foi ameaçada – a integração do transporte metropolitano aqui. Eu que mantive. Nada disso eu tive como prefeito. O único pedido que eu fiz ao Requião foi a isenção do óleo diesel, e ele me negou.



Bem Paraná – O senhor acha que essa discussão sobre o subsídio do transporte em Curitiba causou um desgaste ao governo do Estado?

Richa – Me causou um desgaste sim. Porque foi maldosamente explorado. PT distribuiu panfletos em todos os terminais de ônibus – como é o estilo deles – agressivo, maldoso, assinaram inclusive que foram eles. Agora eu podia cobrar a conta deles. ‘Dei o subsídio, vocês não vão baixar a passagem?’ Não vou.


Bem Paraná – A prefeitura de Curitiba disse que não tem como baixar a passagem porque mesmo com as desonerações e o subsídio, o sistema ainda tem déficit?

Richa – Todas as cidades que eu dei só a isenção estão baixando a passagem. Foz, Londrina, Cascavel. Não vou colocar esse problema no colo deles, como eles colocaram no meu.



Bem Paraná – A eleição do Fruet em Curitiba com o apoio do PT traz uma dificuldade à mais para o projeto de reeleição do senhor para o governo?

Richa – Traz. Sem dúvida. Só que por outro lado, eu tenho o que dizer em Curitiba, o que eu fiz nessa cidade. A melhor educação do Brasil, todas as avaliações do meu governo. Peguei no sexto lugar. Dobrei o orçamento de educação. Na saúde, hospitais, mini-hospitais, o Mãe Curitibana. Menor taxa do Brasil, menor taxa da história de mortalidade materna e infantil. Dez mil obras inauguradas. Enfim. Eu tenho o que dizer em Curitiba o que eu fiz. Por outro lado, eu tomei um banho no interior na eleição em 2010 e consegui vencer no primeiro turno. Hoje a minha condição no interior é incomparável à que eu tinha antes. Eu tinha 60 prefeitos me apoiando. Hoje as expectativas dos otimistas é passar de 300 prefeitos diante do tratamento que o governo tem feito. Da grande parceria que nós temos com os municípios. Dos investimentos, obras em todos os municípios. Então a minha condição – se agravou um pouco em Curitiba – mas melhorou muito no interior. Em Londrina minha aprovação, as pesquisas mostraram, passa de 80%. Ponta Grossa está oitenta e poucos por cento, com a industrialização dos Campos Gerais. Cascavel. Foz tinha um prefeito muito agressivo, agora é um aliado que está lá. Paranaguá, perdemos a eleição, o PT também, o prefeito (Mário Roque, do PMDB) já disse que quer nos apoiar. Araucária. Enfim. No Sudoeste eu não ganhei em nenhum município, foi 42 a 0 para o Osmar Dias. Hoje 80%, 90% dos prefeitos estão do nosso lado e a população reconhece a presença do governo. Então tem os prós e contras, mas eu acredito que a gente tem uma boa possibilidade de ter uma grande vantagem aqui em Curitiba, não tenho dúvida. Até com a queda, também, da aprovação da presidente (Dilma Rousseff) vai ter reflexos nos estados. Já foi apurado, em São Paulo o (Geraldo) Alckmin melhorou, a aprovação subiu. Até porque é praticamente polarizado: PT-PSDB.



Bem Paraná - O senhor tem dito que gostaria de ter o PMDB em uma aliança formal nas eleições de 2014. Os deputados do PMDB colocam como condição básica para essa aliança a formação de um “chapão” para a Assembleia Legislativa com o PSDB e outros partidos da base aliada. Mas os deputados do PSDB rejeitam esse chapão, alegando que teriam dificuldades de se reelegerem. Como pretende equacionar essa situação?

Beto Richa – É natural um querer o outro rejeitar. Em todas as eleições acontece isso. É cedo. Eu não vou sofrer na véspera. Vamos tentar deixar isso para depois. O PMDB vem mesmo? Então o que adianta mexer com isso agora? Primeiro é ver se tem a manifestação na hora, na véspera, a possibilidade de vir conosco. Se vai ter candidatura própria, se vem com o PSDB. E depois vamos tratar dos detalhes. Parte de uma coligação na majoritária e depois vamos ver se é possível na proporcional ou não. Se existem outros blocos que podem compor individualmente. Tem uma série de possibilidades.



Bem Paraná – O senhor também apontou que o Alvaro Dias (PSDB) deve ser o candidato ao Senado . Isso limitaria as possibilidades de composição, já que só sobraria para negociar a vaga de candidato a vice, que hoje é o Flávio Arns, também do PSDB. O senhor pretende trocar o vice?

Beto Richa – Não sei ainda. O Alvaro seria uma coisa natural a reeleição. Mas questão de vice, eu estou satisfeito com o Flávio Arns. Grande companheiro. Faz um bom trabalho na educação. Também é cedo. Não conversei com o Flávio a respeito, nem qualquer outro partido veio com exigência ou pedido para compor a nossa majoritária como vice. Nem o PMDB. É extemporâneo. Vai chegar o momento, mas não é agora. (IS)



Bem Paraná – Na questão da segurança há uma crítica à falta de estrutura das Unidades Paraná Seguro (UPSs).

Beto Richa – São 30 policiais. Criticaram porque são containers. Já mandei, vai iniciar agora, fazer uma casa de alvenaria. Mas é um local de apoio, o objetivo é o policial ficar rodando a região. Você vê em Santa Catarina, a operação Verão, os containers. Não é para ele ficar lá dentro cozinhando. Mas enfim, as críticas vêm. Qualquer vírgula errada as pessoas vão levar em consideração, muito mais que 30 policiais, a presença de viaturas. Que a criminalidade em todas as UPSs reduziu em média 25%. A taxa de homicídio em todas as regiões do Paraná reduziu. Em Curitiba, quarenta e poucos por cento de redução. Eu não posso admitir que um Estado como nosso tenha a menor proporção de policiais per capta do Brasil, como quando eu assumi o governo. Nós temos um problema sério que é a grande faixa de fronteira internacional, que é obrigação do governo federal. Fizeram agora a operação Ágata. Mas é óbvio que os bandidos se recolhem mas depois voltam tudo. Criei o batalhão de fronteira com 500 policiais a mais. Toda a semana temos feito grandes apreensões de drogas. Tivemos a compra de 1.500 viaturas, a maior da história. A maior contratação de policiais, 3.200. O maior salário do Brasil, nossos policiais ganham hoje. A prova é que nós tivemos quase 140 mil inscritos no concurso para ingressar na polícia. Um delegado do Paraná ganho o dobro do de São Paulo. Então as condições de trabalho, armas, equipamentos, viaturas, salário, estão sendo dadas, e os policiais têm dado respostas. Agora se você for observar a segurança é um problema nacional. Você liga a televisão é homicídio, droga, tráfico. Aqui nós conseguimos verificar diminuição em todas as regiões, mas ainda é alto.


Bem Paraná – O senhor acha que a população tem uma percepção clara das ações do governo, ou ainda há dificuldade para fazer essas informações chegarem até as pessoas?

Beto Richa – Temos uma certa dificuldade para fazer chegar. Até porque, lamentavelmente, as notícias negativas tem mais espaço na mídia. E é assim no mundo todo, não vai nenhuma crítica. É difícil. Se tivesse fila quilométrica (no porto) estava todo dia nas manchetes de jornais e televisão. Agora não teve, não se dá tanta importância. O próprio governo, tive muita dificuldade no início para acertar essa questão de divulgação. Agora acho que as coisas melhoraram razoavelmente bem. Porque nós temos números excepcionais, apesar de todas as dificuldades. Os produtores rurais estão satisfeitos, cooperativas. O programa de calcário há dez anos não tinha mais, nós reativamos. Estamos isentando todos os municípios de pagamento de convênio com a Emater para ter apoio técnico aos produtores. Na educação, nós contratamos 17 mil professores, vamos chegar a 31 mil até o final do ano. Estamos chegando a 42% de aumento salarial. Garantimos hora/atividade de um terço para a preparação de aulas. Reforma, ampliação e construção de 2.500 obras em escolas do Paraná, que estavam em situação extremamente precária. Logo de cara dobramos o repasse para os prefeitos para o transporte escolar. Governo anterior era de R$ 27 milhões, nós saltamos para R$ 56 milhões. E em 2013, R$ 80 milhões. Diferença incomparável. Merenda escolar melhorou muito a qualidade. Nós somos o único estado do Brasil a cumprir a lei federal de pelo menos 30% da merenda ser de agricultura familiar. Isso eu disse para a presidente quando ela esteve aqui em um encontro do movimento sem terra lá em Arapongas. Na área de saúde, todos os investimentos que fizemos, injetamos em quatro anos R$ 1,5 bilhão a mais. Só para citar alguns exemplos, o Ministério da Saúde no começo do ano divulgou que o Paraná é o segundo estado do Brasil a desenvolver as melhores ações na saúde, atrás apenas de Santa Catarina, mas muito próximo na pontuação. É o Estado que mais reduziu a mortalidade materna, segundo o ministério também. Atingimos a menor taxa de mortalidade infantil do Paraná. Saltamos do décimo lugar para o quarto em transplante de órgãos. Transplante de córnea nós zeramos a fila. São ações que estão salvando muitas vidas. Coloquei a frota aérea do Estado cuidando dessa área de saúde. Dando para equalizar os pedidos, a frota é pequena. Hoje, 70% do uso das aeronaves do Paraná está para remoção de pessoas em situação de urgência em saúde. Antes, uma aeronave para atender precisava de autorização expressa do governador, um decreto que eu revoguei quando assumi.



Bem Paraná – O senhor acha que a oposição, às vezes, é mais hábil em explorar os fatos negativos do que o governo em capitalizar os positivos?

Richa – A oposição está no papel dela, e tem feito muito barulho. Mas acho que as pessoas têm reconhecido, sim. Tenho visto algumas pesquisas que alguns jornais fazem em uma região ou outra. A aprovação tem sido crescente na medida em que as pessoas vão tomando conhecimento dos feitos do governo, a nossa presença nas regiões também, a mídia local dá divulgação, às obras liberadas naquele momento.


Bem Paraná – Em média quantos municípios o senhor tem visitado por semana?

Richa – Dez. Semana passada foram treze.



Bem Paraná – A receita do Estado cresceu 13% no primeiro quadrimestre, mas a despesa aumentou 20%. Parte disso com pessoal. Por que?

Richa – Um ou outro maldosamente querer dizer que são cargos em comissão. Sabe quanto representam os cargos em comissão? Menos de 1% (dos gastos com a folha). Cargo em comissão puro. Porque tem servidores que até pela importância do cargo, pessoas que ordenam despesas, chefes de repartição, por força de lei tem que receber uma gratificação. Isso também é computado como cargo em comissão. Só que essas pessoas são funcionários efetivos do Estado. Agora tínhamos o menor efetivo policial do Brasil. Tive que contratar policiais. Tive que aumentar o salário deles. Contratei 17 mil professores. Aumento salarial para os professores. Tive que criar a Defensoria Pública. O Paraná e Santa Catarina eram os únicos estados do Brasil que não tinham. Inclusive está no meu plano de governo. Técnicos para a Emater. Arrebentado o Iapar, instituto de pesquisa agrícola que foi o mais respeitado do Brasil. Estamos reativando. Tudo isso para melhorar a estrutura do Estado para garantir serviços com mais qualidade. Modernizando a máquina do Estado.



Bem Paraná - Houve situações como essa em outras áreas?

Richa - Exemplo: Hospital Regional do Sudoeste Valter Pecoits: assumi e nos primeiros meses autorizei a contratação de 524 servidores de saúde. Só em um hospital. Agora foram mais 300 no hospital regional de Ponta Grossa, que não funcionava. Na pressa, no final do governo, inauguraram um monte de hospital, que não funcionava.



Bem Paraná – Na questão do pedágio o governo conseguiu negociar a duplicação de vários trechos de rodovias. O que falta para um acordo mais geral?

Beto Richa – Eu estou otimista. Basicamente assumi com o compromisso de campanha de despolitizar o assunto. Nas campanhas eleitorais o pedágio baixava, depois recompunha o valor, ‘pedágio: abaixa ou acaba’, só enganação. Eu falei que ia tratar com responsabilidade, chamando as concessionárias para conversar e fazer prevalecer o interesse público. Retomamos os investimentos em todas as regiões praticamente. E estamos para lançar dentro de alguns dias outros anúncios de duplicação. Para tratar no âmbito técnico criei a agência reguladora. Estamos revendo todos os contratos. São individuais. Não pense que é uma negociação só. Cada concessão é um contrato individual.



Bem Paraná – O senhor disse recentemente que tinha grande chance de chegar a um acordo para a redução das tarifas e duplicação de todo o Anel de Integração?

Richa – eu disse que estava otimista, não posso anunciar e frustrar uma expectativa que é enorme. Mas estamos aguardando o resultado das auditorias, desse levantamento dos procuradores do Estado. O entendimento que está aí com agência reguladora, para poder concluir. O importante que o diálogo está existindo.



Bem Paraná – O senhor acha que este ano pode sair isso?

Richa – Tem que aguardar. Não posso prever. O importante é que vamos anunciar vários e vamos anunciar mais duplicações.



Bem Paraná - A economia paranaense tem crescido acima da média nacional. Mesmo assim o governo tem tido dificuldades financeiras. Porque isso acontece?

Richa – As últimas medidas do governo federal nos tiraram mais de R$ 1 bilhão de receita. Com a extinção da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre combustíveis), o Paraná perdeu R$ 100 milhões de arrecadação. Com a redução dos repasses do Fundo de Participação dos Estados perdermos mais R$ 400 milhões. Com a redução do IPI sobre veículos e a linha branca (eletrodomésticos) perdemos mais um bocado. Mas o mais grave foi com a diminuição da conta de luz. Só de ICMS da energia, que tem um peso maior na nossa arrecadação, perdemos mais de R$ 500 milhões por ano. Eu não posso aceitar o governo fazer proselitismo, muita propaganda na televisão, questionar os governos do PSDB que têm as maiores empresas de energia de não aderirem integralmente à proposta da presidente para a redução de energia. Nós estamos bancando essa conta. Se eu aderisse a tudo, na geração, por exemplo, eu quebrava a Copel. Tanto é que vimos na Bolsa as ações destas companhias despencaram, inclusive da Eletrobras. É importante diminuir a conta de luz, mas tem que compensar os estados. E fora tudo isso estamos lá com empréstimo internacional bloqueado em Brasília. Vencemos o senador (Roberto Requião). Uma dura luta. Aí chega lá, estamos comemorando já, para no governo federal. Eu tenho visto depoimento de pessoas: ‘estou vendo este belo estádio, mais de R$ 1 bilhão, falta dinheiro para estrada, segurança, pessoas morrendo’. O nosso empréstimo soma - entre BNDES, Banco Mundial e o BID - R$ 2,5 bilhões aproximadamente de recursos parados lá, para segurança, educação, saúde, agricultura, meio ambiente e também para a Fernanda (Richa, secretária da Família), para o programa Família Paranaense, para atender as famílias em risco social, vulnerabilidade, miséria absoluta. Está parado lá. Tem critérios lá que diz que a gente não atende. As pendências do Cauc (Cadastro Único de Convênios do Serviço Auxiliar de Informações para Transferências Voluntárias do Ministério da Fazenda), nós zeramos todas, mas de 40, todas de governos anteriores. Nenhuma do meu governo. Aí não atingimos, na avaliação quadrimestral os 12% da saúde. É um problema que todos os estados brasileiros estão enfrentando. Eles botaram base de cálculo para a saúde o Fundeb, que é um fundo exclusivo para a educação. Só que na base de cálculo eu tenho que gastar mais na saúde. Só que eu não posso usar o dinheiro, que é da educação. De onde eu vou tirar o dinheiro? Então por esta razão nós não atingimos a avaliação quadrimestral da saúde. Uma regra que inventaram em Brasília, estapafúrdia, sem o menor sentido.



Bem Paraná - O senhor tem dito que há má vontade.

Richa - Quando tem boa vontade resolve. Um dos estados do Brasil com maior dívida é o Rio Grande do Sul. Está lá com empréstimo liberado em Brasília. A situação deles de comprometimento da folha de pagamento – que nós também estamos no limite prudencial, uma série de restrições – a situação deles é muito pior. Agora também porque estamos no limite prudencial? A avaliação é percentual: você não pode gastar mais do que 46,55% da receita líquida com pessoal. Só que quando cai a tua receita o que acontece? Aumenta o percentual de comprometimento. Eu perdi R$ 1 bilhão. Não foi por minha culpa, me impuseram isso. E como eu demito os funcionários? Não tem como, tem estabilidade. É uma coisa óbvia que poucos perceberam. Caiu a receita, o percentual aumentou. Aumentou a receita, o percentual diminui. É uma coisa matemática. Mais outro agravante que o Paraná é o estado mais penalizado do Brasil, com gastos com ensino superior que é obrigação do governo federal. Quase R$ 2 bilhões por ano. Você sabia que para financiamento para as obras da Copa não tem restrição nenhuma? O povo reclama e é verdade. Para as obras da Copa não tem restrição alguma, agora para a saúde, segurança, eu estou com o dinheiro bloqueado lá, aí tem restrição. Eu posso tomar dinheiro para estádio, mas eu não posso tomar dinheiro para a educação, saúde, agricultura.



Bem Paraná - Até que ponto o senhor acha que há omissão ou até ação deliberada desses ministros paranaenses contra a liberação desses empréstimos?

Beto Richa – Sem viés político algum, eu sou muito responsável nas minhas colocações. Não canso de citar o ministro (da Justiça) José Eduardo Cardozo que nos ajuda sempre. Agora quando não ajudam eu tenho que brigar pelo meu Estado mesmo. Estão aí os números: (o Paraná é o) quinto contribuinte em arrecadação para o governo federal e o vigésimo-terceiro em receber verbas federais. Eu não posso admitir tendo três ministros lá em Brasília, uma perseguição, uma discriminação como essa.

Bem Paraná – A ministra Gleisi e o ministro Paulo Bernardo dizem que falta projeto e articulação ao Estado.
Richa – Alegam que não tem projeto. Projeto tem de sobra lá. Um eu provo, o Paulo Bernardo (ministro das Comunicações) estava junto comigo na audiência com o ministro (dos Transportes) Alfredo Nascimento. Levei a bancada federal junto. O governador André Pucinelli (Mato Grosso do Sul) que tinha interesse na ferrovia vinda de Maracajú, Mundo Novo, Dourados, Guaíra, Cascavel, Porto de Paranaguá. No lançamento do PAC das concessões, o Paraná foi varrido do mapa. Aquilo ia acabar com o futuro do Paraná. Ia pegar a produção do Centro-Oeste, a nossa que também é muito forte no Oeste, desembocando lá no porto de Rio Grande (RS). Nós reagimos, a ministra (Gleisi Hoffmann) disse que eu tinha que descer do palanque. Que descer do palanque? É minha obrigação reagir com energia.

Bem Paraná - O fato da ministra Gleisi ser pré-candidata ao governo está contaminando a relação do Estado com o governo federal?

Richa – Não sou eu que estou dizendo. Os fatos comprovam.

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