13/03/2013

ARTIGO - Dom Celso Antonio Marchiori, de Apucarana

E a Igreja continua seu caminho
É fato incontestável que Pedro ocupou, no colégio apostólico, um lugar de destaque, e a prova disso é que no Novo Testamento ele é nomeado 191 vezes (162 como Pedro ou Simão Pedro, 23 como Simão e 6 como Cefas). Dessa maneira, das referências feitas aos discípulos, 60% são para Pedro. Isso demonstra o quanto ele se destacou desde cedo dentre os Apóstolos pela sua autoridade, a qual lhe foi delegada por Cristo. Outro destaque exclusivo no que tange à figura de Pedro é que Cristo, ao dar-lhe uma nova e superior tarefa, deu-lhe também um novo nome a fim de que tivesse a missão de levar os ensinamentos do Mestre para o mundo inteiro “Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas, que quer dizer pedra” ( Jo 1,42). Para entender a importância desse gesto de Jesus, basta lembrar que, em toda a Sagrada Escritura, Deus mudou apenas três vezes o nome de homens: de Abrão para Abraão; de Jacó a quem Deus nomeia Israel, e de Simão para Pedro. O novo nome que lhe foi dado por Jesus deriva do aramaico Kêphâ, que significa pedra, rocha. Pedro, portanto, é a tradução da palavra grega de Cefas (encontrada 95 vezes nos evangelhos, 56 vezes em Atos dos Apóstolos, 2 vezes em Paulo,etc). É a partir dessas precisas indicações bíblicas a respeito de Pedro que afirmarmos o seu primado sobre a Igreja, e disto reconhece-se que a doutrina católica sobre o papado tem a fundamentação bíblica decorrente do primado de São Pedro entre e sobre os Apóstolos, sendo que tais prerrogativas foram-lhe dadas pelo próprio Jesus Cristo, autenticadas pelo colégio apostólico e reconhecidas e aceitas e ensinadas pela Igreja Primitiva.  
O primado que Pedro recebeu é a autoridade que lhe foi conferida por Jesus antes de sua paixão, morte e ressurreição. De fato, em Mateus 16,18 Jesus lhe diz “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e os poderes da morte não prevalecerão contra ela”. A pedra aqui mencionada é o próprio Pedro, e não a sua fé ou Jesus Cristo, como às vezes alguns julgam que seja. Cristo não aparece como a fundação, mas como o arquiteto que constrói a Igreja, a sua Igreja. Pedro é o fundamento, mas não o fundador da Igreja de Cristo; ele é o administrador de Jesus, responsável de conduzir e apascentar seu rebanho (Jo 21,15-17).  Para algumas interpretações não católicas, o nome de Pedro (petros em grego) teria significado de “pequena pedra” e que, portanto, Cristo se refere a si mesmo como petra (pedra grande) da Igreja. Entretanto, tal interpretação não se sustenta porque no grego Koiné (que foi também a língua original do Novo Testamento da Bíblia e da Septuaginta - tradução grega das escrituras judaicas) as palavras petros e petra não possuem significados distintos (confira Joseph H. Thayer, Thayer’s Greek-English Lexicon of the New Testamente – Peabody, Hendrickson, 1996). A palavra grega para designar “pequena pedra” é lithos – “Se és Filho de Deus, manda que essas pedras (lithoi) se transformem em pães” (Mt 4,3); “os judeus apanharam pedras(lithoi) para apedrejar Jesus” ( Jo 10,31). Além disso, Jesus falava aramaico, não grego, e em aramaico Ele usou a mesma palavra para designar Pedro e pedra – Kêphâ (Jo 1,42). Assim, se Jesus tinha a intenção de chamar Simão de “pequena pedra”, teria usado o termo aramaico correspondente, ou seja, a palavra evna. Logo, a sintaxe da frase de Mateus 16,18 não deixa a menor dúvida e, por isso, a palavra petros é o mesmo sujeito com que é designado São Pedro.  Há ainda outra consideração importante sobre o primado de Pedro e esta é o “poder das chaves”. Jesus, ao conferir-lhe o primado, disse-lhe: ”Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19). Esse poder tem a ver com a disciplina eclesiástica e a autoridade administrativa com respeito às exigências da fé, como em Isaías 22,2 ou Apocalipse 3,7. Jesus deu a Pedro o poder de “ligar” e de “desligar”, termos técnicos usados pelos rabinos e que significavam “proibir” e “permitir” com referência à interpretação da Lei; significavam também o poder de condenar ou de absolver. Assim, a Pedro e a seus sucessores, os papas, foi dada a autoridade de estabelecer as leis para a doutrina e a vida, em virtude da revelação e da assistência do Espírito Santo (Jo 16,13). “Ligar” e “desligar” representam poderes judiciais e legislativos do papa e dos bispos (Jo 20,23), sucessores dos apóstolos, mas São Pedro foi o único apóstolo que recebeu esses poderes individualmente. Pedro, por conseguinte, teve a singularidade de receber um novo nome conferido por Jesus (Jo 1, 42 ; Mt 16,18); ele é aquele que tem o seu nome em primeiro lugar na lista de todos os Apóstolos. Pedro foi colocado por Jesus como Pastor e Chefe de sua Igreja, depois dEle mesmo(Jo 21,15-17). Pedro é o primeiro a confessar a divindade de Cristo (Mt 16,16). Pedro é considerado pelos judeus como o líder e porta-voz dos cristãos ( At 4,1-13), assim como é tido como líder pelo povo (At 2,37-41; 5,15). Pedro é, entre os discípulos, o líder e o representante dos Apóstolos (Mc 16,7). A relevância que São Pedro ocupa no Novo testamento e, portanto, na Igreja Primitiva, explicita e fortalece de maneira enfática o seu primado na Igreja e, dada a delimitação de espaço de nossa abordagem nessa coluna, não podemos analisar com extensão e profundidade o seu papel importante e indispensável desempenhado como autoridade constituída por Cristo em sua Igreja; por isso, apenas como referência, lembramos que, além dos dados bíblicos presentes no Novo Testamento, foram também muitos os testemunhos primitivos sobre o seu primado, tais como os de Tertuliano, que afirmou que a “Igreja foi constituída sobre Pedro”, ou de Ambrósio ao ensinar que “Onde há Pedro, aí há a Igreja de Jesus Cristo”, ou ainda do grande Inácio de Antioquia que, ao escrever aos romanos, dizia que a Igreja de Roma preside a todas as demais e, por fim, de Santo Irineu cujo escrito “Contra as Heresias” defendeu com clareza o primado de Pedro e a sucessão apostólica afirmando que “Porque é com esta Igreja (de Roma), em razão de sua mais poderosa autoridade de fundação que deve necessariamente concordar toda a Igreja, isto é, que devem concordar os fiéis procedentes de qualquer parte, ela na qual sempre em benefício dos que procedem de toda parte, se conservou a tradição que vem dos Apóstolos”    A Igreja Primitiva - os primeiros cristãos - sabia e respeitava o Primado de Pedro, subsistente na pessoa de cada papa que o sucede e, como escreveu o filósofo e colunista da Gazeta do Povo, Carlos Ramalhete, “Ao papa, um homem como qualquer um de nós, cabe a difícil missão de dizer sempre o mesmo, de repetir, elucidar e esclarecer a Revelação concluída com a morte do último dos apóstolos, no fim do século 1. Em outras palavras compete a ele ‘confirmar os irmãos na fé’, na frase do próprio Cristo. Confirmar, não inventar, mudar ou seguir a moda”.  Concluímos dizendo que o Papa é o Bispo de Roma, porque foi aí que Pedro, ao término de sua missão e segundo a mais antiga tradição literária e arqueológica, recebeu a coroa do martírio.  Tive a graça de visitar o túmulo do apóstolo Pedro que se encontra no subsolo da Basílica Vaticana, a famosa Basílica de São Pedro.  E a Igreja continua seu caminho: desde o Apóstolo São Pedro até o nosso novo Papa Francisco:
Assinado   Dom Celso Antonio Marchiori - Bispo de Apucarana

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